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    Os caminhos do resseguro

    2014-11-12

    Fonte: O Estado de São Paulo

    Desde a abertura do monopólio do resseguro a atividade já encontrou diferentes cenários, todos previsíveis, dentro do momento por que passa o setor de seguros. Nada de novo debaixo do sol? Nem tanto. O Brasil atualmente tem mais resseguradoras do que seguradoras, o que é, no mínimo, fora da lógica da atividade nos demais países do mundo.   O setor de seguros tem como carro chefe as seguradoras. As resseguradoras existem como consequência da atuação das companhias de seguros e não o contrário. Ter mais resseguradoras do que seguradoras tem, ao menos, um viés positivo. Demonstra a crença no potencial do mercado e a confiança nas instituições nacionais por parte de mais de uma centena de grupos internacionais que optaram por colocar suas fichas também aqui.   A maioria dessas empresas está registrada como resseguradoras eventuais, ou seja, não necessitam se instalar no Brasil. Por isso são autorizadas a operar no país, limitadas a porcentuais rígidos, menores do que os das resseguradoras locais e admitidas.   As resseguradoras locais são as grandes beneficiadas com a abertura do resseguro. São companhias formadas de acordo com a lei brasileira, ainda que podendo ter como acionistas grupos internacionais. Elas podem reter o grosso dos riscos, evidentemente que de acordo com a capacidade de aceitação de cada uma, nos termos da lei.   As resseguradoras admitidas não são empresas brasileiras, mas necessitam cumprir exigências mínimas para operar nesta condição. Elas têm capacidade negociai maior do que as resseguradoras eventuais. Cada empresa sabe de si. Por que as resseguradoras entraram no Brasil com desenhos diferentes está ligado às políticas e aos planos de expansão de suas matrizes. O curioso é que praticamente todas têm atuação bastante parecida. Nenhuma se lançou em negócios menos conhecidos, ou de risco mais alto, ainda que tendo experiência de sobra para isso.   O resultado é que atualmente o Brasil padece de garantia securitária para uma série de atividades econômicas, além de não ter apólices modernas para cobrir os riscos de origem climática, estes sim, os grandes vilões que custam caro para a sociedade.   Se alguém dissesse que é porque as resseguradoras estão ganhando fortunas com suas operações brasileiras, seria até razoável aceitar que não havería motivo para assumirem novos riscos, num mercado pouco conhecido. Mas não é isso o que se vê. Ao contrário, várias resseguradoras estão perdendo dinheiro. Não fosse o resultado do IRB Brasil Re, o segmento das resseguradoras locais estaria no vermelho.   O problema é que a guerra de preços jogou os prêmios de resseguros para baixo e recuperar as margens é complicado. Além disso, ninguém espera que 2015 seja um ano fácil. Então, é melhor ficar como está, porque pelo menos o mercado atualmente atendido já é bem conhecido. Em épocas de vacas magras ninguém gosta de colocar dinheiro onde não sabe se vai ganhar. Explicar para quem não conhece o setor, nem tem mão de obra qualificada para assessorá-lo, que é possível ganhar dinheiro nos campos que não estão sendo atendidos é difícil.   Se o segurador é, por profissão, alguém conservador, o ressegurador o é muito mais. Resseguro trabalha com médias históricas que estão se estreitando. Quer dizer, não há mais tempo, como até há alguns anos, para os ciclos amadurecerem e girarem. Os célebres ciclos de sete anos estão encolhendo, já tendo quem diga que agora acontecem em três.   Seja como for, é hora de dar uma chacoalhada no mercado. O setor de seguros brasileiro tem um potencial de crescimento enorme. Mas, para deflagrar o processo, é indispensável mudar os produtos que estão sendo oferecidos. Boa parte deles não atende as necessidades dos segurados. E a outra não é ao menos conhecida.   Evidentemente, a culpa pelo quadro não é apenas dos resseguradores. Mas se eles forem mais flexíveis, com certeza, as seguradoras se tomarão mais agressivas, oferecerão produtos mais modernos e mais baratos e o setor e a sociedade ganharão muito com isso.